quinta-feira, 27 de maio de 2010

O prêmio no jornalismo: uma questão delicada

Ter um prêmio na carreira é uma glória para a maioria dos profissionais, para o jornalista não poderia ser diferente. Segundo a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), somente no ano de 2009 ocorreram pelo menos 48 concursos no país. Grande parte dos textos premiados traz à tona denúncias que causam impacto na sociedade. Esse fato revela a tarefa social que o jornalismo possui. Em países cujas desigualdades são fatores predominantes na ameaça à democracia, essa constatação fica mais evidente. É senso comum nas redações, a idéia de que a premiação cria uma aura junto à profissão que é seguida, repassada e buscada pela maior parte daqueles que se envolvem com a prática jornalística. Entre as mais reconhecidas premiações temos o “Prêmio Esso”, criado em 1956, “Embratel” de 1999 e o “Pulitzer” concedido desde 1917. Mas até que ponto ter um prêmio na carreira significa excelência no jornalismo?
É inegável que na atualidade as redações estão cada vez mais vazias e a existência de prêmios no currículo pode ser um bom diferencial na garantia da permanência do jornalista no mercado de trabalho. Boa parte dos prêmios que chega a uma redação se dá pelas mãos de jornalistas experientes, principalmente por aqueles que produzem textos jornalísticos incluídos na modalidade investigativa.
Profissionais como Hilka Telles, Chefe de reportagem do jornal “O Dia” e Chico Otávio, repórter especial do “O Globo” e um dos maiores ganhadores de prêmios do país, afirmam que qualquer prêmio possui um valor simbólico muito grande, maior do que o dinheiro em si. No caso do “Esso” isso aumenta em enorme proporção por ser concedido por colegas do ramo. Esse prêmio tem ampla consideração junto às redações brasileiras.
Para novatos como Cintia Cruz, formada em jornalismo há dois anos pela Pontifícia Universidade Católica do Rio e atualmente trabalhando no portal do Big Brother Brasil da Globo.com, ter a possibilidade de ganhar um prêmio é algo que se deseja desde a faculdade. “Quem não sonha em ser uma jornalista reconhecida por seus méritos?” Pergunta em tom de euforia. “Na faculdade, nos primeiros dias de aula, todo professor trás a tona tudo que fez de melhor na carreira, inclusive os prêmios que ganharam”, conclui.
Para o jornalista e apresentador Alberto Dines, do programa Observtório da Imprensa (OI), da Rede Brasil, a existência de prêmios não garante a excelência no jornalismo; pelo contrário, quem deve ser engajado na proposta de se fazer um bom jornal é o jornalista, pela prória essência da profissão, não pela possibilidade de ganhar algo em troca ou não.
Dines deixa bem claro sua opinião em texto publicado no site do OI. Para ele, “um bom colunista de política ou de economia deve exibir suas excelsas virtudes no acompanhamento da política e da economia. É esse o seu compromisso liminar. Mas se, porventura, precisa ser estimulado por um prêmio para tratar dos problemas da infância e da adolescência, então ele (ou ela) não merece os louros que lhe estão sendo oferecidos”, finaliza.
O jornalista além de criticar a postura de muitos profissionais que visam recompensas, também critica a existência de um enorme número de premiações. Ele chama atenção para o fato de que a maioria dos prêmios é concedida por empresas privadas, anunciantes dos próprios meios de comunicação que premiam. Como um bom provocador lança mão da pergunta “a enxurrada de prêmios continuaria se os grandes veículos deixassem de mencionar o nome da firma que os promove?”.


Onde estão os prêmios no jornalismo Brasileiro?




A existência de tantos prêmios nem de longe reflete a diversidade do jornalismo brasileiro. De modo geral, poucas são as redações premiadas. O que há é uma alternância no melhor lugar do podium. Levando-se em consideração o Prêmio Esso fica mais facíl visualizar essa questão. Desde o surgimento da premiação em meados da década de 1950 até o ano de 2009, apenas 18 redações ganharam o prêmio principal, ou seja, o Prêmio Esso de Jornalismo. Vale lembrar que podem concorrer matérias de todo o país.
O descompasso entre a circulação de periódicos e a premiação é gritante. Segundo a ANJ, em 2009, circularam 356 jornais pelo país. Nesse mesmo ano, o Esso escolheu 38 matérias s de um universo de 1212 trabalhos inscritos para a segunda fase de seu concurso. Como resultado final, apenas dez periódicos foram contemplados: O Globo, Jornal do Commercio, O Estado de S. Paulo, Correio Braziliense, Folha De S. Paulo, O Dia. Jornal De Santa Catarina, Diário De Pernambuco (Recife), A Tribuna (Santos). Além da revista Época.
Foram 520 reportagens, séries de reportagens ou artigos, 209 trabalhos de criação gráfica em jornal, 164 trabalhos fotográficos, 125 primeiras páginas de jornal, 69 trabalhos de criação gráfica em revista, além de 121 trabalhos de telejornalismo e quatro inscrições ao Prêmio de Melhor Contribuição à Imprensa.
Quando focalizanos os dados em relação à Região Sudeste, as contas mostram quão concentrado está o jornalismo brasileiro. Da primeira premiação do Esso na categoria Regional Sudeste, em 1957, até o ano de 2009, poucas foram as redações que levaram o prêmio. Entre elas: Jornal do Brasil, com 11 prêmios, O Dia, oito e Folha de São Paulo, com cinco prêmios. De acordo com dados mais recentes publicados pela ANJ, mais de 350 títulos de jornais circularam pela região nesse período.
Na maioria das premiações é concedida aos jornalistas, além de diploma, viagem, cursos de capacitação e dinheiro. No último concurso, o Esso concedeu R$ 109 mil reais em premiação, distribuidos em 14 categorias. Além do prêmio principal, que leva o nome do programa, fixado em R$ 30 mil, o Telejornalismo, fica com R$ 20 mil, os prêmios regionais R$ 9 mil, Reportagem e Fotografia com R$ 10 mil para cada e R$ 5 mil para cada uma das categorias de Criação Gráfica-Jornal, Criação Gráfica-Revista, Informação Econômica, Informação Científica/ Tecnológica/ Ecológica, Prêmio Esso Interior e Prêmio Esso de Primeira Página.


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